Corpo Elétrico (2017) - Resenha de cinema

(Foto: Divulgação/Vitrine Filmes)

Durante a uma hora e meia do filme de estreia de Marcelo Caetano na direção, acompanhamos o dia a dia de Elias, um jovem adulto da Paraíba que trabalha em uma confecção de roupas em um bairro localizado no centro da cidade de São Paulo. Longe da família, com a qual não tem fortes relações, ele vive da rotina de trabalho, confraternizações com os colegas de serviço e encontros casuais com outros homens.

Logo na primeira cena, que apresenta o personagem após um ato sexual, ele discorre sobre sua conexão com o mar, e ao longo do filme, vemos o quanto os dois estão atrelados simbolicamente. Elias é uma pessoa livre de amarras e se deixa levar pelas ondas da vida, que o conduzem fluidamente entre trabalho, amizades, festas e parceiros amorosos. Em determinado momento do longa, quando perguntado por seu chefe como ele imagina a si mesmo em cinco anos, o personagem não consegue chegar a uma resposta definitiva. Diz que esse período no tempo está muito longe. O rapaz não tem grandes planos para o futuro e vive o presente, sem grandes preocupações.

(Foto: Divulgação/Vitrine Filmes)

Mesmo com a ausência de grandes reviravoltas ou conflitos na narrativa, o longa se sustenta a partir das ocasiões de descontração episódicas entre Elias e as pessoas que o cercam, e as estreitas relações que eles constroem. Isso é bem exemplificado por uma cena em plano sequência que acompanha os personagens andando pela rua à noite depois do fim do expediente na fábrica de roupas, com destino à casa de um deles para uma confraternização. A câmera passeia pelo conjunto como um todo e pelos pequenos grupos que vão se formando entre eles enquanto jogam conversa fora, para depois se agrupar novamente.

No fim das contas, a família de Elias acaba sendo composta por aqueles que habitam o seu cotidiano. Os laços de afinidade são o mais importante. Isso vai desde os amigos do trabalho aos parceiros sexuais recorrentes. O leque diverso de personagens ainda é expandido mais tarde por drag queens e travestis, núcleo que apresenta Linn da Quebrada e Márcia Pantera no elenco, dois nomes fortes no panorama artístico queer.

(Foto: Divulgação/Vitrine Filmes)

Ao contrário de outras produções que partilham e abordam a temática LGBTQ+, o filme não apresenta conflitos relacionados à aceitação própria e dos outros. Tudo é encarado com normalidade. Os personagens não têm dúvidas a respeito de sua sexualidade, eles não precisam passar por preconceitos e julgamentos morais, e também não é necessário superar desafios para poderem ser quem são. Em meio a tanta diversidade de cor, gênero e sexualidade, no universo criado pelo longa, a diferença é tida por todos como natural, algo reconfortante de se ver na tela.

Nota: 3,5/5.

Onde ver? MUBI.

Por Augusto Ferreira

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