O filme coreano que sintetizou a nossa década - Crônica


(Foto: Divulgação/Pandora Filmes)

Nem parece que já faz quase seis meses desde que Parasita, de Bong Joon-Ho, saiu do Oscar consagrado com os principais prêmios da noite. Pandemias à parte, né?

Feito inédito para um filme de língua não inglesa, o primeiro do gênero a levar a estatueta máxima, além de ainda sair premiado na direção e roteiro. 

O longa se tornou, portanto, um dos maiores da história do cinema, e mais do que isso, conquistou público e crítica ao trazer uma proposta que retrata muito bem nossa década, marcada por contrastes. 

Década essa de implosão das redes sociais, da cultura de convergência de mídias e compartilhamento de conteúdos em massa.

Contrastando com o aumento gradual das desigualdades sócio-econômicas, ao redor de um planeta globalizado. De um só povo tentando sobreviver num contexto capitalista cada vez mais em crise.

(Foto: Divulgação/Pandora Filmes)

Parasita ganha um caráter universal, porque, em qualquer lugar do mundo, é impossível não se familiarizar com a história das famílias principais. Do Suriname à Nova-Zelândia. 

Algo que poderia acontecer tanto nos porões da Coréia do Sul, quanto nas comunidades do Rio.

Quantos motoristas Ki-Taeks não vemos tentando ganhar a vida diariamente em seus Ubers, e ainda por cima sendo tratados como meros objetos serviçais descartáveis de uma elite privilegiada e esnobe?

Bong Joon-Ho é tão bem sucedido em sua obra, pois, não só leva uma mensagem extremamente potente e atual ao público, como a conta de maneira sensível e absolutamente acessível.

Para o cinéfilo fã de Tarkovski, aos menos interessados por cinema.

Concretizando muito mais do que uma produção megalomaníaca feita apenas visando satisfazer um pequeno grupo de intelectuais, em busca de validação própria. 

Algo que marca, inclusive, a carreira de Joon-Ho, cineasta que costuma promover conceitos metafísicos e reflexões na mesma intensidade em que entretém sua audiência num dinamismo impressionante.

Como é o caso do filme Okja (2017), em que ele trata do veganismo, tema de estreita progressão contemporânea, sem parecer pedante ou moralista.


(Foto: Divulgação/Pandora Filmes)

Outra questão central de Parasita é a forma com que a família pobre se infiltra na mansão dos ricos. Como não criar um paralelo com o comportamento das redes sociais? Em que parecer ser é mais importante do que realmente ser.

O fingimento e a atuação de todos lembra muito o marketing pessoal dos influencers, a militância que fica presa na artificialidade da criação de uma imagem pessoal positiva, sempre a favor da igualdade e diversidade, mas que se olhar a fundo, no mundo real, não se mantém.

Afinal, é muito fácil amar o próximo em frente à tela do computador, mas não desejar ao menos um bom dia ao porteiro do condomínio, porque não tem ninguém para filmar.

A sociedade das aparências está em seu ápice, a vida passou a ser editada e montada para se mostrar um conto de fadas. O pecado foi extinguido. Não existem mais seres humanos que falham. Se existem, são cancelados imediatamente.

A bolha que Mark Zuckerberg começou não parece estar nem perto de terminar, e Joon-Ho parece ter compreendido a superficialidade disso perfeitamente.

E a gente, compreendeu?

Para fechar, os deixo com estas imagens, encontradas no Instagram. É, definitivamente estamos na era da emancipação do Coach:


É brincadeira?


Por Vinícius Galan

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