De portas abertas para a dança

Dançarinos usufruem de todas as liberdades oferecidas pelo Centro Cultural São Paulo (CCSP) para a realização de ensaios


(Foto: Instagram - Prática no CCSP/Rafael Coura)

Ao entrar nas instalações do Centro Cultural São Paulo (CCSP), um dos mais importantes pontos artísticos e culturais da capital, logo se percebe uma movimentação característica do lugar. Em meio aos largos corredores e áreas externas, seus espaços estão sempre repletos dos mais variados estilos musicais, que pairam pelos ambientes, enquanto uma grande diversidade de dançarinos faz proveito de cada milímetro livre do endereço, que também comporta salas de cinema, bibliotecas, teatro e espaços expositivos, para realizar ensaios de dança.

É o caso do bailarino e ator Felipe Marcelino, de 23 anos. Desde pequeno, já havia decidido que dançar era a sua vocação. Aos 12 anos de idade, tinha a vontade de se profissionalizar e logo deu preferência ao balé que, para ele, é a melhor base para se começar devido ao aprendizado e a disciplina necessária. “A dificuldade me fez ter mais entusiasmo do que as outras”, afirma. O dançarino é integrante de um grupo voltado para a performance com base nas músicas populares sul-coreanas, o k-pop, gênero que ganha cada vez mais espaço mundialmente.

O grupo “StickWitU” foi criado em 2017, com o intuito de fazer com que os participantes tivessem mais experiências em palco e com o público. Atualmente, o conjunto está em uma pausa momentânea por causa dos compromissos pessoais de cada um dos participantes, sem uma previsão de retorno. No entanto, Felipe continua dançando ativamente em parceria com Anie Caroliny, uma das integrantes: “Com ela, há mais certeza de que irá ter futuro”, revela.

Felipe frequenta o CCSP desde 2015 e na maioria dos finais de semana, pode ser encontrado perto da disputada área onde há uma parede espelhada, seu lugar favorito nas imediações. É lá que ele ensaia os seus passos de k-pop e de jazz, estilos que mais pratica no ambiente. A escolha do espaço foi incentivada pela grande quantidade de dançarinos presentes no local, além de servir como uma forma de divulgação de seu trabalho para o público. No ambiente, “é possível conhecer pessoas que dominam a mesma arte que eu e isso é muito gratificante”, declara.

A engenheira de hardware, terapeuta e professora de dança de salão Luciene Felix, de 26 anos, é praticante do zouk, dança de origem caribenha, proveniente “de uma adaptação da lambada, que foi ocorrendo com o tempo”, explica. Segundo ela, foi atraída pelo estilo “por ele ser mais livre, dar mais possibilidades de expressão, de liberdade”. Os vários gêneros musicais presentes no local a motivaram a fazer uso do CCSP para treinar essa dança, e ela não é a única.

Toda semana, sempre às segundas-feiras, pessoas que praticam o zouk se reúnem no local para ensaiar em conjunto. “É um lugar para encontrar pessoas, para dançar, para se divertir”, afirma Luciene. Além de treinar, ela utiliza o centro cultural com o objetivo de ensinar. É lá que ela ministra suas aulas voltadas para o estilo, que são “para aqueles que querem ter uma dança mais fluida, com conexão, entrega”, ressalta.

(Foto: Instagram - Prática no CCSP/Rafael Coura)

As danças urbanas também estão presentes em peso no local. O microempreendedor individual Adilson Ramos de Lima, conhecido também como Dil RL, teve seu primeiro contato com a dança quando criança. Era fã do Michael Jackson, o “Rei do Pop”, e sempre tentava imitar seus movimentos. No entanto, já era adulto quando conheceu e resolveu aprender e treinar o popping, um dos estilos que compõem a dança de rua, que se baseia na rápida contração e relaxamento dos músculos de acordo com o ritmo da música.

No início de 2017, Adilson foi convidado por um colega de dança, apelidado de Igor “Trakinas”, a treinar no centro cultural. Os encontros ocorriam sempre às quintas-feiras e com o passar do tempo, outros dançarinos que já frequentavam o lugar começaram a demonstrar interesse em ensaiar com os dois. O volume de pessoas cresceu e o que antes era apenas um treino em dupla, atualmente é um evento semanal, nomeado de Prática no CCSP, que reúne praticantes de todas as vertentes das danças urbanas. “Há pessoas de outras cidades, estados e até de países vizinhos que vêm até São Paulo exclusivamente para estar com a gente”, explica.

Devido ao fato de ser o mais velho entre os frequentadores, com 46 anos, o dançarino é considerado uma espécie de “guru” para os mais jovens: “Às vezes participam só 5, às vezes participam mais de 50 pessoas”, comenta. Ele fica satisfeito ao poder acompanhar de perto a evolução dos dançarinos mais novos, pois “o objetivo principal mesmo é só colocar em prática o que as pessoas treinam no dia a dia. Ali é o teste, a prova real e a vivência da cena como cultura”, avalia Adilson.

Quando chega o horário de fechamento do prédio do centro cultural, os encontros são encerrados na calçada, onde todo o grupo permanece até que a bateria do aparelho de som, fornecido sempre por Adilson, se esgote, ou até que a estação Vergueiro do metrô, próxima ao local, esteja prestes a fechar, sinal de que é hora de ir embora. Para o dançarino, “a vida precisa de cultura e as pessoas precisam viver a cultura. Lugares como esse nos proporcionam essa experiência”.

*Texto referente ao período anterior à quarentena implementada no estado de São Paulo, que levou ao fechamento temporário do local.


Por Augusto Ferreira

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