Taxa de suicídio aumenta em 7% no Brasil e mídia tem papel de responsabilidade sobre prevenção

Na contramão da tendência mundial, os índices, no Brasil, são maiores em período de 6 anos

setembro-amarelo-1.jpg
(Foto: Portal PEBMED)

A taxa de suicídios a cada 100 mil habitantes aumentou 7% no Brasil, ao contrário do índice mundial, que caiu 9,8%, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os números comparam as mortes autoprovocadas, de acordo com registros da organização no período entre 2010 e 2016, em diversos países do mundo. No último mês, de campanha do Setembro Amarelo, os dados apontaram o quanto ainda precisamos dar atenção ao tema.

O suicídio foi a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, após acidentes de carro. Entre os adolescentes de 15 a 19 anos, o suicídio foi a segunda principal causa de óbito entre meninas, após condições maternas (mortes ocorridas durante a gestação, no parto ou até 42 dias depois do nascimento do bebê, causada por qualquer fator relacionado à gravidez ou agravado por ela), e a terceira principal causa em meninos, após colisões na estrada e violência interpessoal.

Embora os números universais estejam em queda, os índices ainda são alarmantes: cerca de 800 mil pessoas acabam com suas vidas todos os anos no mundo, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos.

A região das Américas foi a única a apresentar crescimento da taxa global de suicídios, com incremento de 6% na comparação com 2010. Cerca de 80% dos casos ocorrem em países de baixa e média renda, como o Brasil.

https://lh4.googleusercontent.com/7S2jRreydlg8CuzJn9OvcUkj0QWIGP6eH3cXifpOs9GHuzSWHTJN6RRgHakLDB-vBBcHDAuMQuZNe5yxZD5vswoyZ9TRzETHF1aK5ZfBEnY8p8Z5sf3Zw2xcbIBf4TgquSZTKphjfDWm6ACF1w
Tabela mostra a porcentagem de mortes por suicídio entre homens e mulheres, no período de 6 anos, entre 2011 e 2016.

Papel dos veículos de comunicação brasileiros

O suicídio é um tema delicado de se tratar, principalmente no meio jornalístico. Muito é dito sobre como notícias, principalmente a forma como são feitas, podem influenciar seus receptores.

Nos manuais de redação, há uma série de normas a serem seguidas em relação às maneiras corretas de noticiar casos de suicídio ou tentativas, como a não utilização de imagens e da palavra “suicídio” nos títulos e chamadas. No entanto, essas instruções nem sempre são seguidas à risca pelos veículos, como é o caso de dois jornais da cidade de Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso, MídiaNews e 24 Horas News, que demonstram inaptidão ao abordar o assunto.

Análise de duas notícias dos Jornais de Cuiabá

- Pastor famoso por trabalho sobre saúde mental comete suicídio – MídiaNews.


C:\Users\vin\Downloads\IMG-20190922-WA0003_2.jpg

Problemas da notícia: Falta de ética, e exposição do nome e imagem da vítima sorrindo, além de trazer uma visão pessimista que, veladamente, desrespeita a luta do pastor contra seus trabalhos a favor da saúde mental.

- Ex-ator mirim da Globo fala de tentativa de suicídio: “Estava em euforia” - 24 Horas News.


C:\Users\vin\Downloads\IMG-20190922-WA0002_2.jpg
Problemas da notícia: Falta de ética, exposição do nome da vítima e tratamento do tema como mero entretenimento. Foto do personagem sorrindo com seu cachorro, imprudente devido ao contexto.

Consequências 

A recorrência das publicações inapropriadas, por parte dos veículos analisados, envereda por um caminho tortuoso, e nocivo, sobre a consciência dos receptores, uma vez que passa a espetacularizar e consequentemente deturpar a concepção que estes formariam a respeito do tema.

Abre margem ainda, para as discussões sobre normas de conduta a serem adotadas pela mídia em sua amplitude no tratamento do suicídio, seja no campo das artes ou da comunicação. A homogeneidade das mensagens e a desproporção em seu consumo tendem a ir de encontro no que tange a preservação da vida.

A opinião de Aurora Seles, jornalista e professora dos cursos de comunicação do Senac, sobre a responsabilidade do profissional da mídia no suicídio

Aurora: “As pessoas se pautam e se moldam em cima de informação, então a mídia tem uma verdadeira influência em atitudes tão delicadas quanto o suicídio. Um suicida não tem excesso de coragem, nem excesso de covardia, é provado em estudos científicos, médicos, e entre analistas psiquiátricos que as pessoas suicidas querem se livrar do problema naquele instante. Algumas pessoas ficam ruminando o problema, aí ao ver uma reportagem, em que mostra a maneira que a pessoa se matou, o que parece ser muito simples, pode ser um estopim para que ela tome coragem de exercer um comportamento suicida. O papel da mídia é importante, mas acima de tudo, responsável. Responsabilidade dos dois lados, por influenciar e evitar. O jornalista tem de tomar cuidado antes de retratar esse tipo de informação, por que ele fala no escuro, não sabe o que as pessoas sentem e passam.”

“O papel da mídia é importante, mas acima de tudo, responsável. Responsabilidade dos dois lados, por influenciar e evitar.” Aurora Seles.

Aurora também falou sobre um momento melhor na relação da mídia com o suicídio: “Em todos os lugares, sempre há o lado da mídia sensacionalista que não tem a preocupação com o leitor e o internauta, mas a mídia de massa tem tomado cada vez mais cuidados, inclusive com depoimentos de especialistas e pessoas que chegaram muito próximo ao suicídio mas tiveram respaldo da família e essa tragédia foi evitada. A mídia mudou sim, muito nos últimos anos, está mais cautelosa, felizmente.”

Por Ariane Oliveira, Augusto Ferreira e Vinícius Galan

Comentários

  1. É realmente difícil abordar este tema. Não há manual que resolva as inúmeras dúvidas que temos acerca dele e de como contribuir para que as pessoas tenham conhecimento sem que isto se confunda com valorizar ou julgar as ações. Parabéns pela matéria, que funciona como uma espécie de observatório do jornalismo e, ao mesmo tempo, nos ajuda a entender melhor o tema. Os dados indicarem que o Brasil está na contramão da tendência mundial reforça ainda mais a necessidade de lidar com este delicado assunto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O Holofote Jornalismo agradece a sua participação!
      Obrigado pelos comentários e elogio.

      Excluir
  2. E Julio Cesar nem aqui mais está para se defender..."Acta Diurna", diria ele, premonitoriamente: "Melhor deixar prá lá" A população que se vire com mensagens de fumaça. E outra; Gutemberg terá menos trabalho.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas